quinta-feira, 31 de julho de 2014

O primeiro pedaço

Acho que uma das tarefas mais importantes que tenho, como mãe de duas, é incentivar a construção de um relacionamento estreito, harmonioso e amoroso entre as minhas duas filhas. Cada pequeno indício de que uma tem à outra, que uma pode contar com a outra, é capaz de produzir uma inexplicável onda de amor e de alívio (sim! elas têm uma à outra, não apenas a mim ou ao pai delas) em mim.

E ontem presenciei uma cena dessas.

Foi aniversário de quatro anos (sim, quatro anos! parece que foi ontem, parece que ela sempre existiu) da Helena. Fizemos o jantar especial que ela pediu (macarrão à bolonhesa e de sobremesa melancia e manga, que aos 45 do segundo tempo foi complementada, sempre à pedido, com sorvete de doce de leite). Jantamos nós quatro mais os meus pais.

Chegou então a hora de cantarmos parabéns. Sem que ninguém falasse absolutamente nada, a Helena pegou a faca, cortou (daquele jeito) um pedaço de bolo e falou baixinho, pra si mesma "o primeiro pedaço vai pra Teresa". Eu estava ao lado dela e escutei, fiquei feliz da vida, mas ela não percebeu. E como ninguém mais deu bola, todos estavam conversando, ela anunciou em alto e bom som "o primeiro pedaço é da Teresa", lançando pra mim o seu olhar mais doce e ligeiramente constrangido, como quem pede desculpas por estar dando o primeiro pedaço, tão importante e simbólico, para a irmã e não pra mim.

Foi o gesto mais lindo que você fez, filha. Jamais teria conseguido me agradar e me deixar feliz da mesma forma que você me deixou. Dar o primeiro pedaço - com toda a simbologia nele embutida - para a sua irmã, dando mostra da força da relação de vocês, é a maior homenagem que uma mãe pode receber.

Todos aplaudiram, comemoraram, elogiaram. A Teresa mandou um BIDADA LELE e fui dormir com a sensação de que sim, estamos no caminho certo.